I've got to open my eyes to everything.
Without a thought
Without a voice
Without a soul Don't let me die here/There must be something more.
Bring me to life.

sábado, 20 de agosto de 2011




Hoje estou todo negro.

Vesti-me de preto do tórax à planta dos pés.

Fiz isso, pois precisava

sentir a mim e me inebriar na exatidão

que qualquer outra cor não poderia correlacionar

ao meu estado de espírito.




Fiz isso, pois meu interior jaz em negro violento,

obscuro e silencioso.

Fiz isso por que me cansei de tantas cores

que a vida parece ter.

Meu ser agora é todo negro.

Negro da cor do nada.

Negro que nega o tudo.




Cansei de tudo.

Das palavras sempre bem elaboradas no papel,

do livro sempre lido que de tão lido

está surrado e já com páginas amareladas.

Dos sorrisos de dentes brancos.

Da mesma casa, dos mesmos gostos,

dos mesmos discos novos.

Da internet sempre atual. Do vermelho vivo

que as luzes dos carros emitem no transito.

De palavras sempre belas

e repetidas, dos desejos e insinuações.

Desta minha fé morta, que de tão morta

move montanhas.

Das mesmas pessoas, dos mesmos assuntos,

das mesmas casas, das mesmas caras.







Estou cansando e sobrecarregado.

Cansei desta velha casca desgastada

que carrego sempre

e que com ela vou vivendo até um dia me acabar.

Cansei de tudo que é cor.

Cansei de tudo que é meu e mais um pouco

que tomo emprestado dos outros.




Tudo o que me resta é esta casca.

Esta velha casca desgastada.

E esta angustia existencial inacabada




Fernando Martins

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